(...) À deriva, o artista percorreu diversas vezes os prováveis caminhos que ligam sua casa-oficina até o Museu de Arte da Pampulha, transformando este fluxo em objeto/desenho. Em Casa-Museu Museu-Casa, uma máquina de desenhar rotinas com a forma externa de uma maleta, acionada por uma manivela, possibilita refazer o trajeto, gravar o percurso e, numa linha sinuosa, reconfigurar o mapa da memória. Origem e destino: duas rotas demarcadas a lápis pela engenhosa maquinaria gráfica. (...)
Marconi Drumond
(...) E assim eu passo à mostra oferecida aqui no Mezanino do Museu e à tentativa de aproximação em relação a alguns dos trabalhos. Em primeiro lugar eu gostaria de destacar o fato da exposição ter sido conquistada por vocês, resultante de uma reconstrução, ou recondução dentro do processo – que embora possa ter apresentado problemas ou tensões durante, parece desembocar na mostra com uma clara proposição de espaço, que eu chamaria de entre outro. Entre porque nem é propriamente ação, nem são as obras, e outro, uma vez que nem há registro nem tampouco a representação de um processo. Nesse sentido, considerar o exposto por si só já nos coloca no interior de um campo de discussões. Com relação aos trabalhos e fazendo uma analogia com a imagem do lago, eu começaria com o Daniel Herthel e a idéia de densidade e volume da linha contida em seu trabalho. Seus trajetos são linhas, são evidência de um percurso e isso está marcado por exemplo na guia de madeira instalada dentro de um dispositivo mecânico por ele construído. É a materialização do deslocamento, deslocamento esse que se apresenta como se fosse um scanner, desenvolvendo a idéia da onda que se desloca sobre a superfície plana do lago. Quer dizer, ele materializa algo que costumeiramente a gente abstrai, quer dizer, essa materialização, essa marcação me parece algo muito análogo assim, é um processo de inserção no espaço aberto da cidade, pontuando um percurso, apontando certas ocorrências. Mas, além da materialização, o trabalho também é a proposição de descaminhos, uma vez que, para absorvermos a complexa dimensão de um determinado percurso, necessitamos disponibilizar nosso tempo e percepção. De uma certa maneira isso está apontado também na animação, mas é o chamar a atenção para esse deslocamento sempre fugidio, sempre abstrato, que faz com que nosso olhar sobre a cidade se torne também por vez abstrato, é que me parece muito marcado no trabalho, principalmente na régua, naquele disco dentado e construído de forma a pontuar acidentes geográficos e, enfim, percursos, desvios e tal. (...)
Rubens Mano
DRUMMOND, Marconi; MOULIN, Fabíola. Bolsa Pampulha 2007-2008: 29 Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Museu de Arte da Pampulha, 2007.