O jogo de xadrez Nonada foi um desafio pessoal antigo de desenhar e construir um bom conjunto que estivesse dentro dos padrões de torneio e que fosse atencioso nos detalhes.
Como referência para as peças de xadrez, selecionei designs que me atraíram mais pelo equilíbrio e estética, deixando de lado qualquer referência a temas fantasiosos ou excessivamente ornamentados. Para as peças brancas, utilizei pau-marfim, e para as pretas, jacarandá, ambas madeiras de demolição.
Segui o padrão Staunton para os detalhes das coroas: no rei, a tradicional cruz patada, e na rainha, o desenho clássico e elegante da coroa com uma esfera no topo. Para o bispo, optei pelo design do antigo padrão inglês, anterior ao Staunton, por considerá-lo mais elegante e mais rico na construção, respeitando melhor a simetria original da mitra. Esse ajuste conferiu ao bispo uma presença mais digna dentro do jogo.
O cavalo foi desenhado em harmonia com as demais peças, focando em proporção, simetria e limpeza de detalhes. O processo de tornear a madeira confere uma uniformidade ao restante das peças, e, por ser esculpido à mão, o cavalo muitas vezes destoa pela falta de precisão. No meu design, trabalhei para que essa escultura se integrasse ao conjunto de forma fluida.
Para a torre, enfatizei a sobriedade monolítica de sua forma, com um corpo largo, característica comum em jogos tradicionais. No topo, adicionei uma cópia do padrão marchetado do tabuleiro, como se fosse um elemento arquitetônico. Já no peão, busquei inspiração nos sets soviéticos, em especial o modelo "Baku" dos anos 60, reconhecido por sua simplicidade elegante e proporcional. A base larga e o corpo fino das peças criam uma boa sensação de presença sem comprometer a visualidade do jogo, pois a maior parte da massa fica próxima ao tabuleiro.
Em todo o conjunto, trabalhei para eliminar excessos, equilibrando reentrâncias de maneira cuidadosa. Por exemplo, o uso de formas côncavas e convexas nas bases das peças foi pensado para criar uma identidade coesa: o rei, o bispo e a torre compartilham bases arredondadas e convexas, representando poder. A rainha, por sua vez, tem uma base côncava, mais afiada e arrojada, refletindo sua agilidade e "sagacidade". Coloco o peão e o cavalo no mesmo grupo da rainha. O cavalo, em particular, é uma mistura: sua parte frontal possui a convexidade do poder, enquanto as costas apresentam a concavidade da astúcia. Essa assimetria na base fez com que seu desenho sinuoso se integrasse bem ao conjunto.
No tabuleiro, meu foco foi destacar as diagonais e os círculos. Desenhei composições em cada quadrado que começam como coroas e gradualmente se transformam em círculos no centro do tabuleiro, utilizando pau-marfim e imbuia. A técnica de queimar as lâminas em areia quente ajudou a criar sombreamentos sutis, que, sem distrair o jogador, oferecem uma experiência visual envolvente para quem observa de perto.
Na moldura do tabuleiro, esculpi quatro cobras Coral comendo os próprios rabos, uma alusão ao Ouroboros e ao tema do eterno retorno. Usei ipê, mogno e pau-marfim despigmentado para criar essa simbologia, que reflete o dualismo presente no jogo de xadrez, mas também a unidade e a evolução.
A moldura em peroba rosa foi levemente rebaixada até o nível do tabuleiro, evocando a sensação de um vale aconchegante em vez de um platô, sempre destacando o círculo e suavizando as quinas, tanto na visualidade quanto no toque.
Finalmente, as bases das peças foram preenchidas com chumbo para melhorar o equilíbrio e o peso. Também inseri ímãs de neodímio, tanto nas peças quanto no centro de cada casa do tabuleiro, para que elas se posicionem de forma precisa e satisfatória ao serem movidas.